Atualmente, podemos chamar de antiga aquela máxima que separava o dia em três momentos: oito horas para o descanso, oito para o trabalho e oito para a diversão. Nada mais justo do que tentar equilibrar as vinte e quatro horas de cada fatia da nossa existência. No entanto, a sociedade, em geral, tende a valorizar o homem de acordo coma sua produtividade. Essa validação ocorre principalmente no trabalho, e tem a ver com quantidade e intensidade de esforço. Trabalhar muito é nobre. Estar livre é suspeito. Se você tem flexibilidade de horário e resolver ir ao cinema numa terça-feira à tarde, por exemplo, possivelmente sentirá um leve constrangimento por estar se divertindo num momento em que todos estiverem trabalhando.
Ao longo do tempo, vimos testemunhando um aumento de episódios de estafa, estresse, colapso mental e outros nomes de adoecimento psicofisiológico relacionados ao trabalho. Esses colapsos descrevem uma espécie de crise existencial, emocional e até mesmo orgânica – decorrente de uma relação adoecida do indivíduo com o trabalho – que atualmente conhecemos como Síndrome de Burnout.
A Síndrome de Burnout, de acordo com o Ministério da Saúde, pode ser também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional. O quadro é de um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico, resultantes de situações de trabalho desgastantes, que demandam muita competitividade e/ou responsabilidade.
A boa notícia é que existem tratamento e cura para o Burnout, mas o estresse e o caos do episódio de esgotamento são tão marcantes que a melhor estratégia é a prevenção. Naturalmente, a melhor saída – prevenir – não será a mais simples. O cuidado na prevenção tende a não ser o mesmo de quando sentimos, efetivamente, os sintomas causados pela síndrome. Além disso, o diagnóstico requer uma experiência considerável do avaliador, para evitar confusões com casos de depressão ou transtornos de ansiedade.
O melhor caminho para a cura do Burnout, em geral, é a psicoterapia. No entanto, há que se prestar atenção para a possível necessidade de uma avaliação psiquiátrica – no caso de sintomas ansiosos ou depressivos paralisantes.
O grande trunfo que todos temos na mão, no entanto, é a prevenção. Vale lembrar que, também na prevenção, a psicoterapia está indicada. Será um processo que ajudará no reconhecimento dos sinais precoces do transtorno, como mau humor; cansaço; percepção negativa do ambiente de trabalho em geral, incluído colegas; dúvidas sobre a própria capacidade para desempenhar tarefas; dificuldade para realizar tarefas normalmente fáceis. Esses sinais, quando presentes por semanas ou meses, geralmente evoluem para o burnout, quando não há tratamento. Uma vez instaurado o quadro, os sintomas serão mais fortes e em maior quantidade, podendo, não raro, desencadear um quadro depressivo.
Voltando à ideia da valorização que recebemos pela nossa produtividade, é importante buscarmos uma forma saudável de pensar sobre nossa relação com o trabalho. A utopia da produtividade máxima com qualidade de vida máxima deve ser criticada. A partir de certo ponto, para que a produtividade continue aumentando, a qualidade de vida deverá cair, ou vice-versa. A renúncia como eterna consequência da escolha.
No processo de prevenção, devemos ter em mente o objetivo claro e inegociável de não deixar que o trabalho nos torne doentes. Com esse objetivo, possivelmente teremos escolhas difíceis pelo caminho, mas o burnout estará cada vez mais longe.
Braz Werneck
Psicólogo Especialista em Terapia Cognitiva e Terapia Familiar
@werneck.braz
Parceiro e Consultor Técnico da Attua Gente e Gestão